Mais conceitual, Casa de Criadores traz circo, era disco e seios de fora

Para valorizar as roupas moderninhas e descoladas, Alê Brito preferiu deixar as peças abertas, mostrando os seios das modelos, por vezes cobertos com os cabelos compridos levemente ondulados Foto: Divulgação
Para valorizar as roupas moderninhas e descoladas, Alê Brito preferiu deixar as peças abertas, mostrando os seios das modelos, por vezes cobertos com os cabelos compridos levemente ondulados
Foto: Divulgação
Os estilistas que se apresentaram na segunda noite da 32ª edição da Casa de Criadores voltaram seu foco para a moda conceito, do estilo uma ideia na cabeça, looks diferentes na passarela. Circo, discoteca, deserto, seios de fora... Na passarela-palco montada no espaço Grand Metrópole, no Centro de São Paulo, os criadores soltaram a imaginação, apresentando peças que mostram uma ou outra tendência, mas carregam no lado conceitual. E isso não é ruim. O evento, idealizado exatamente para fugir do apelo comercial, já teve altos e baixos. Agora, ocorrendo depois das outras semanas de moda brasileira, parece que voltou a sua essência. “No desfile, gosto de apostar no conceito mesmo. O lado comercial fica para o dia a dia, tanto na minha marca principal, quanto na segunda marca, que lancei recentemente: a Eivi”, conta Arnaldo Ventura. Eivi é, na verdade, a pronúncia em inglês das iniciais de seu nome: AV. O estreante no line-up principal Fernando Cozendey, egresso do Projeto Lab após duas temporadas, segue o mesmo pensamento. “Mostro minhas ideias na passarela. Essas roupas não foram feitas para serem vendidas. A linha comercial será um desdobramento do que apresento aqui”, afirmou. 
 Circo 
Arnaldo Ventura se inspirou na tragédia do Gran Circus Norte-Americano, que pegou fogo em Niterói, no Rio de Janeiro, em 17 de dezembro de 1961, matando cerca de 500 pessoas. O incidente foi traduzido na passarela com roupas inspiradas na vestimenta de palhaços e pierrôs, em formas ora mais largas, ora mais justas. Golas estruturadas, macacões justos de malha ou de couro com vazados (como os dos trapezistas), listras em preto e branco (tendência que parece se impor nas próximas temporadas), casacos, parkas, camisas, blusões esportivos e calças justas com losangos próprios dos pierrôs marcaram presença. Uma exclusiva estampa de palhaço se destacou nas peças. Veludo, cetim e muita malha, principalmente em verde-garrafa e preto, pontuaram as roupas, sempre muito bem terminadas. 
 Discoteca
Fernando Cozendey trouxe o universo da discoteca, em vermelho, bordô, prata e grafite. Brilho, franjas feitas de rolotês de elastanos, macacões e calças boca-de-sino, maiôs e vestidos justos, longos ou curtos foram os principais elementos. Com perucas black power pretas e loiras, as modelos encarnavam as divas disco. Faltou, porém, um pouco mais de atitude forte das garotas para exibir o estilo poderoso das roupas que marcaram os anos 70. 
Seios de fora 
Alê Brito, fiel à sua matéria-prima principal, o couro, trouxe calças justas na parte de cima e com as bocas mais largas, lembrando também os modelos dos anos 70. Jaquetas, coletes de couro ou pele, paletós transformados em vestidos e conjuntinhos de tecido plano, em tons fortes, como pink, com calças e paletós, deram o tom à coleção, também com muito preto, branco e verde-militar. Para valorizar as roupas moderninhas e descoladas, o estilista preferiu deixar as peças abertas, mostrando os seios das modelos, por vezes cobertos com os cabelos compridos levemente ondulados. 
Preto e branco 
A Jacinto, da dupla Douglas Pranto e Gláucio Paiva, se inspirou na luz e na sombra para criar sua coleção com vestidos, casacos e vestidos tipo paletós, calças no meio da canela e saias em preto e branco, com apenas dois looks em vermelho, para “representar o sol”. Os garotos do Rio Grande do Norte, ainda que se preocupem com o acabamento, dessa vez careceram de ideias novas. As peças, na maioria vestidos, com detalhes em tom contrastante ou feitos com tule para dar impressão se transparência, têm sido vistas nas coleções nacionais e internacionais há várias temporadas. Eles têm talento, mas pecaram no quesito criatividade. 
Cor
A masculina Juss, de Juliana Souza, manteve-se fiel aos jacquards, neoprenes, matelassados e brim resinados, em cores fortes, como azul, verde, avermelhados e tons de terra. Blusões amplos com cós, camisas mais ajustadas, calças mais curtas, casacos oferecem um opção aos jovens que querem uma roupa diferenciada e moderna. Aplicações de corino em algumas peças também estiveram presentes, como no casaco amplo e curto apresentado pela única mulher. “Quis lembrar que além do masculino desfilado aqui também faço feminino”, disse a estilista. 
Projeto Lab
Os jovens que se apresentaram no Projeto Lab foram uma grata surpresa. Não fugiram de suas inspirações e trouxeram peças bem feitas. Bruna Abreu misturou tons de off-white e bordô, com brilhos e franjas, numa coleção em que a silhueta feminina, mais justa e elegante prevaleceu, com golas e detalhes estruturados. Gilber Lopaka trouxe uma silhueta inspirada no “didgeridoo”, instrumento de sopro dos arborígenes australianos. Resultados, as 10 modelos desfilaram vestidos retos e compridos, com pouca abertura para as pernas e sempre em dois tons: saia de um e parte de cima de outro. As cores terrosas, como marrom, caramelo-amarelado, vermelho e preto pontuaram as peças, que recebiam pinturas étnicas de mãos e faixas. Acessórios que seguem essa linha e turbantes finalizavam os looks. A jovem sul-coreana Yoon Lee Hee voltou ao Projeto Lab depois de participar em 2010. Inspirada no deserto, a estilista mostrou modelos em estruturas tubulares transparentes na cor de pele ou pretas, com trabalhos de cordas e tramas e acessórios enormes. Por baixo, shorts, tops, leggings com flores. “Imaginei a sensação de miragem que se tem, por isso coloquei as flores. O nude das transparências lembra o tom da areias”, afirmou. Nos pés, as modelos levavam sandálias com salto altíssimo e plataforma vazada de madeira em forma orgânica. E na cabeça, perucas tipo Chanel preta. Um desfile mais escultural. Belo e dentro do que se pede a Casa de Criadores.
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